A lenha crepitava enquanto enquanto as chamas lambiam a velha panela de ferro pendurada de maneira preguiçosa sob um arco sustentado por 3 barras de ferro. O calor vermelho-alaranjado se chocava contra a luz azulada que banhava o céu. Sentado sob a cabana feita de pano estava Billy, ele vigiava seu companheiro enquanto voltava com um prato cheio de ensopado e sentava no lugar ao lado.

— Nossa mãe, Bill! Você fez isso com o rabo?

— Cale a merda da boca – retrucou Bill num tom bem humorado —,  ainda não estamos no acampamento e minhas reservas já se esgotaram faz dois dias. Se ao menos estivéssemos passado pelas Três Marias, tinha comprado algumas batatas.

— Você sabe que era perigoso — Scott falava sério — olhos demais.

— Você tem razão — respondeu de imediato, olhando distante como se tentasse lembrar de algo — Ah sim! Como eu ia dizendo, tinha essa garota que trabalhava num saloon que era do seu pai. O homem era músico e passava a noite no piano, enquanto sua filha tocava o bar. Ela passava a noite a servir whisky e cerveja para qualquer estrangeiro que aparecesse. Todos diziam que Lucie era a garota dos sonhos. Somente uma garota como ela faria um fora da lei abandonar a vida errante para trocar seu garanhão por um punhado de vacas.

— Pfff — desdenhou Scott — se existisse uma vadia desse naipe eu mesmo levaria ela pra cima antes de terminar a cerveja. As mulheres só querem saber de uma coisa: Dinheiro. E eu tenho algumas moedas no bolso, meu amigo.

— Você está certo, Mr. Perk. Muito homens tentaram galanteá-la e até usar de força, mas a garota sabia se defender. Cansei de ouvir notícias dos corpos que eram carregados pra fora do bar. As vezes mortos, as vezes não.

Bill coçou o bigode e procurou um cigarro na bolsa enquanto tentava organizar as palavras na mente, fazia esforço para resgatar do fundo da memória as pequenas partes daquela história.

— Havia uma mistura de admiração e medo — continuou Bill —, até que um dia entrou um cowboy que a fez abrir um sorriso. Era um garoto qualquer de um rancho perto do rio… não sei mais o nome. — fazendo um sinal de negação com a cabeça, Bill tirou os olhos das chamas e os penetrou em Scott — Lucie era apaixonada pelo pobre garoto do rancho. E quando ele chegou no saloon, lhe trouxe um presente num embrulho de palavras para se despedir.

— O que? — Scott parecia interessado na história.

— Estou te dizendo, droga! — Bill voltou os olhos para as chamas e agora, parecia acompanhar a fumaça que subia do ensopado — O maldito garoto veio dizer adeus para a garota dos sonhos de todo o vilarejo. Ele já tinha vivido a vida toda num rancho cuidando de vacas e agora, que já tinha seus 16, queria se aventurar com um bando de foras da lei. Queria experimentar a liberdade e viver aventuras. Típico da juventude. Acontece que para isso, teria que abrir mão de Lucie.

Scott fez uma careta ao engolir mais uma colherada. Bill continuou.

— Lucie era uma menina madura, de fato. Ouviu tudo com a cabeça erguida e mesmo com o coração partido, entendeu a escolha do garoto. Veja como a vida é, Mr. Perk. A garota que era desejada por todo mundo, queria apenas um. E este um que tinha a garota, queria o mundo.

— Suponho que você aprendeu algo com isso, hahaha! – Scott zombou dele enquanto via o amigo indo até a fogueira pegar sua porção.

— Claro que sim! – Bill parecia de bom humor enquanto voltava – Aprendi que não se pode ter tudo nessa vida. Nem mesmo um jantar decente ou uma cerveja pra ajudar a empurrar tudo pra baixo.

Scott não respondeu. O seu sorriso tinha morrido do seu rosto e seus olhos, estavam fixados no horizonte atrás de Bill. O que houve? Sua mão foi levemente descendo até a empunhadura do seu revólver. Bill entendeu o recado de imediato e virou lentamente ao mesmo tempo que abria o botão do seu coldre. Demorou alguns segundos até que seus olhos se acostumassem com a escuridão platinada, foi então que começou a identificar uma figura que surgiu ao longo da planície, perto da estrada. O homem estava a pé e vinha guiando sua montaria que parecia baixa demais para ser um cavalo. Talvez uma mula? O homem parecia exausto e se aproximava com certa rapidez de onde eles estavam.

— Quem vem lá? — Gritou Scott com seu revólver já em mãos. Bill voltou para seu lugar antes mesmo do homem chegar mais perto e ficou observando atentamente com a mão repousada na empunhadura de sua pistola.

— Nem mais um passo! Quem vem lá? — Scott agora tinha largado o prato de lado, se colocado de pé e apontava a arma para o estranho.

— Calma, calma. Sou amigo, estou desarmado! — Falou o estrangeiro se aproximando lentamente e pondo suas mãos ao alto.

— Meu nome é Jack — Continuou o forasteiro — Estou viajando sozinho. Tem lobos por essas bandas, sabia? Eu pensei que poderiam compartilhar a fogueira com um pobre viajante. Venho de Saint Louis, não como nada desde ontem a noite, Eu e Aveia precisamos de um descanso. À luz da fogueira era possível ver o homem com precisão. Usava jeans e camisa de trabalho. O bigode volumoso caia pelo rosto barbeado. Parecia ser velho, mas vigoroso e de aspecto experiente. Após ouvir o apelo do homem e de o observar um pouco, Scott olhou para Bill como que perguntasse se deveriam permitir que o forasteiro ficasse. Bill falou:

— Tudo bem, Camarada. Agora, deixe seu rifle ao lado da fogueira e espero que não se importe de descansar sob a mira do meu amigo aqui.

— De forma alguma! — O homem parecia aliviado — Deixe-me pôr isso aqui. — falou enquanto depositava o rifle de abate ao lado da fogueira junto com sua pistola.

— Muito gentil da parte de vocês — o homem continuou — Não é todo mundo que aceita um estrangeiro no seu fogo. Agradeço muito!

— Só não faça eu me arrepender — Scott o fuzilou com um olhar e voltou a se sentar.

O homem voltou alguns passos até sua mula a puxando pra perto.

— Essa é Aveia, minha companheira. Já vi muitos animais nessa vida, mas nenhum tão leal quanto essa mula. Isso é um ensopado?

— Deveria ser – Scott cuspiu no chão.

— Seu bastardo ingrato – Bill deixou de encarar o homem e olhou para Scott com uma ar sorridente – Você deveria passar fome como o Mister…

— Mr. Hill, Jack Hill. Prazer em conhecê-los…

— Me chame de Bill.

— Mr. Perkins – Disse Scott colocando a arma sobre a perna cruzada.

— Cavalheiros, vocês se importariam se… — Jack apontava para a panela fumegante.

— Ia sobrar mesmo… Vá em frente — Scott falou.

— Gentileza, muita gentileza.

Bill pegou o prato de Scott e passou ao novo companheiro de fogueira que o pegou de imediato e despejou duas conchas do ensopado. Nem soprou direito e já colocou na boca. Bill o encarava com curiosidade, enquanto Scott ria por dentro esperando o momento em que o homem vomitaria tudo pra fora. Depois de duas colheradas o homem parou e olhou para Bill.

— Coelhos?

Bill assentiu com a cabeça e disse logo em seguida.

— E só.

— Bem — Jack pousou o prato perto da fogueira enquanto se levantava em direção a mula —, o segredo para um bom ensopado de coelho é dois ramos de erva-doce, duas folhas de meta-silvestre, uma cenoura e é claro…

— Batatas! — Completou Bill com um olhar surpreso. O homem trazia uma bolsa de suprimentos naturais que tinha tudo que ele mais desejava duas horas antes quando acendia o fogo. Jack abriu um sorriso.

— Posso?

— Por favor! — Exclamou Scott com os olhos brilhando.

Daí o homem começou a fazer sua mágica, primeiro descascou e cortou as batatas depositando-as na panela fervente. Depois raspou e cortou as cenouras em rodelas pondo-as também com mais água. Depois de um tempo de fervura ele preparou a menta moendo-as em pequenos pedacinhos e misturando ao mesmo tempo com a erva-doce, depois temperando os nacos de carne fazendo pequenas abertura com uma faca e pondo a mistura esverdeada por dentro. Bill observava com atenção e anotava alguma coisa no seu caderno na barraca, enquanto Scott parecia ansioso pela refeição que, até que enfim, viria.

— Sou um caçador — Jack falava enquanto trabalhava com os olhos fixos na panela — Meu pai também era e ele me ensinou todos os truques para sobreviver numa selva. Dicas de como sobreviver e de como comer bem mesmo tendo pouca reserva. Ervas, fungos, carne maturada, defumada, conservada no sal grosso e no whisky. Tenho sempre ingrediente comigo para uma boa refeição. O meu problema é tempo. Não posso parar para aproveitar uma boa fogueira como essa. Porém o cansaço me pegou.

— Pra onde você está indo, caçador? — perguntou Scott, aparentemente interessado na história do homem.

— Para mais ao sul, perto do rio. Há uma pequena fazenda de trigo com um moinho. Tenho uma dívida a pagar e ela está ali — Apontou com o polegar por sobre os ombros para aonde estava Aveia.

— A mula? — Scott pareceu curioso.

— Hahaha! Não não, as peles! Hahaha aquelas ali ao lado do meu saco de dormir – Jack se divertiu com a confusão, agora virando o dorso e apontando com a faca para o traseiro da mula.

— Veados? — Bill olhou para a mula que já estava pastando na penumbra.

— Uma sim, e dos grandes. Media quase dois metros de altura. Uma fêmea, pastando na boca de uma selva alta nos arredores de Rosenbud.

— Rosenbud!? Você andou bem longe hein, cowboy. — Scott puxou um fósforo de sua bota e acendeu um cigarro. Jack confirmou com a cabeça enquanto tirava um pouco do caldo e experimentava na mão.

— A caçada foi difícil, estava chovendo muito e estava ruim demais de seguir as trilhas. Não podia correr o risco de ela me ver e correr para a mata. Então tive que me arriscar num tiro de longa distância. Não a abati com um tiro, mas fiz o sofrimento ser curto. A pele pode render um belo tapete. — Explicou Jack.

— E a outra? — Bill perguntou em seguida olhando para Scott. Ele permanecia com o revólver em punho, porém mais relaxado. Parecia gostar do novo sujeito e gostava ainda mais de histórias. Bill confiava no instinto do amigo e decidiu relaxar também. De vez em quando é bom ouvir histórias em vez de contá-las.

— Bem, é de uma suçuarana. — Replicou Jack.

— O QUE? — Bill tomou um susto — Impossível!

— Eu também não acredito! Você está dizendo que caçou uma suçuarana? Hahaha — zombou Scott.

— Bem, eu tenho isso pra provar — Jack puxou um colar de dentro da camisa com duas presas gigantes de quase doze centímetros e depois deu de ombros.

Aquilo pôs um sorriso amargo no rosto de Scott que olhou para o sujeito com mais respeito. Bill pediu pra examinar o colar de perto.

— Claro!

Jack jogou e Bill pegou ainda no ar. Olhou com calma admirado como ainda estava afiado. Santa mãe de Deus, o homem fala a verdade.

— Impressionante! Como você conseguiu? — Depois de examinar as presas por algum algum tempo, Bill perguntou.

— Como eu disse antes, meu pai me ensinou. — Jack parecia orgulhoso — O negócio de caçar grandes predadores é que eles não esperam ser caçados — Jack apontou a faca para Bill, como se confirmasse o que dizia — essa é a fraqueza deles. Na vida selvagem, sempre alguém é caçado.

— Mas como isso aconteceu? — Indagou Scott, cada vez mais curioso.

— Irei contar, mas antes… — Jack abriu a tampa e o cheiro do ensopado tomou conta do ar.

— Santo Cristo, você é meu salvador!! — Scott pôs-se de pé salivando.

— Ei Scott! Que tal deixar nosso convidado se servir primeiro? – Em seguida Bill olhou para Jack — Por favor…

— Agradeço! — Dessa vez Jack encheu o prato com gosto. A cenoura se desfez com o calor tornando o caldo cremoso e de um tom alaranjado, as batatas coradas estavam derretendo na boca ao ponto em que a carne fibrosa do coelho, já bem passada do cozimento, fazia o contraste dos sabores por conta do tempero com um gosto agridoce. Scott foi o próximo a se servir pegando uma cuia de água e tomando sem auxílio de uma colher. Bill foi o último, e preferiu comer na própria panela.

— Bem, foi totalmente por acaso — Começou Jack depois de ter limpado o prato — depois que esfolei o cervo e enrolei a pele no lombo de Aveia, percebi que ela estava agitava e nervosa. Tentei acalma-la, mas ela deu no pé. Correu feito louca campo abaixo me deixando apenas com meu rifle e a faca.

Jack se levantou, esticou as pernas e foi até Aveia enquanto falava — Foi aí que eu vi um bando de cinco ou seis cervos correndo na direção da mata. Ao acompanhar o movimento contrário eu vi a fera. De imediato rolei no chão e recarreguei meu rifle. Qualquer pessoa, nem mesmo um caçador está preparado pra enfrentar uma onça-parda — Ele deu uma pausa enquanto tirava um cantil de dentro da carga do animal e tomava um gole profundo. — Uma bebida? — Disse apontando o cantil para Scott.

— Hell yeah! — Respondeu abrindo um sorriso.

Jack voltou até a mula e remexeu em outra parte da carga até tirar um galão com uma espécie de bebida escura. Foi até Bill, que o pegou junto com dois cantis no fundo da barraca e os começou a encher.

— Como eu ia dizendo, fui me arrastando até uma parte onde a grama era mais alta, sempre com o olho na onça. Ela estava a algumas milhas de distância, coisa pouca para suas pernas, porém longe demais para meu rifle. — Jack tirou seu chapéu de vaqueiro e coçou a nuca. Seu cabelo grisalho refletia a fogueira num tom avermelhado, o que dava um aspecto ainda mais tosco a sua calvície. — Para sobreviver numa situação dessa eu teria que me aproximar da fera e abate-lá antes que ela me visse. Para a minha sorte, tinha uma carcaça enorme de um cervo e por isso passei despercebido.

Bill tomou um gole da bebida, era forte e descia como fogo líquido. Tanto que fez seu olho lacrimejar. Mas que diabos é isso?

— Mais que droga é isso? Aaaargh! — Scott inspecionava a garrafa depois de ter tomado um gole.

— Eu mesmo faço, whisky e algumas ervas. Serve para duas coisas: Acender fogueiras e afogar as mágoas hahaha – Jack gargalhou.

— Adorei hahaha — Scott tomou outro gole — SANTO CRISTO!! AAAARGH.

— Então… Qual foi sua estratégia? — Bill se voltou para Jack.

— O que? Ahh, sim! Bem, esperei que a fera fosse até a carcaça e começasse a devora-la, foi aí que fui me aproximando, me arrastando devagar pela relva encharcada. Cheguei perto o suficiente para escolher o ponto em que iria atingir. Apoiei o joelho na grama, me posicionei e atirei na altura do pulmão, pelo visto acertei em cheio pois vi o sangue explodir para fora enquanto a fera corria assustada com o estrondo.

Jack parecia triste como se estivesse mais arrependido do que orgulhoso de ter feito tal coisa. Ele pegou a faca de volta e começou a brincar descascando um graveto.

— Ela não foi muito longe, caiu no chão porque não conseguia respirar — Jack continuou — e ficou lá, hora se debatendo, hora quieta. Não pude chegar muito perto, pois corria o risco de ter a garganta cortada por causa de uma patada. Então esperei até que seus movimentos fossem enfraquecendo. Depois fui lá e finalizei o serviço.

— Nossa. Espero que ajude com sua dívida — Bill podia notar o pesar do caçador.

— Não foi uma morte limpa, mas com certeza foi algo que surgiu na hora em que eu precisava. Uma material desses é realmente raro. Quem sabe eu conseguirei algo. — Jack pôs o cantil no bolso da camisa e vasculhou o bolso de trás — Música?

— Se eu tivesse uma garota, essa sim seria uma noite perfeita hahaha – Scott guardou a arma no coldre — Eu lhe julguei mal, Mr. Hill. Você me parece ser um sujeito decente — falou abrindo um sorriso.

Bill concordou com o companheiro e se dirigindo a Jack disse:

— Por favor…

Jack pegou sua gaita e posicionou por entre as mãos em forma de concha. Passou alguns segundos enquanto ele torcia o instrumento e ajustava-o na mão como se procurasse um encaixe perfeito. Depois disso o som melodioso invadiu a noite misturando-se com o silêncio.

Aquela era uma cena que trazia nostalgia para Bill, pois lembrava do acampamento e de como Carl tocava seu violão na fogueira. Ele olhou para Scott, que de certa forma parecia sentir o mesmo. Precisamos voltar o mais rápido possível, só mais esse último serviço e estaremos, de fato, livres. De repente notou que reconhecia a música que Jack tocava na sua gaita, então começou a acompanhar com pequenos estalos de dedos. Jack notou e se virou para ele fazendo um sinal com a cabeça como que se pedisse para que ele acompanhasse com a voz. Bill foi pego de surpresa, mas deu de ombros e, estalando os dedos, começou a cantar.

I want to live, I want to give
I’ve been a miner for a heart of gold
It’s these expressions I never give
That keep me searching for a heart of gold and I’m getting old
Keep me searching for a heart of gold and I’m getting old

Keep me searching for a heart of gold
You keep me searching and I’m growing old
Keep me searching for a heart of gold
I’ve been a miner for a heart of gold

— Hahaha muito bom, Mr. Hill – Scott estava aplaudindo. Ele já tinha esvaziado um cantil e o estava enchendo de novo — Meu amigo Bill aqui, eu sei que gosta de cantar, mas uma harmônica doce como a sua eu nunca ouvi antes.

— Realmente — Concordou Bill — Sabe, Mr. Hill. Meu pai era minerador. Ele vivia nas cavernas e minas de carvão. Chegava em casa mais escuro que a noite e saia antes mesmo de clarear. — dessa vez foi Bill que tomou um gole — Ele tinha esse sonho de encontrar uma pepita para nos tirar daquela vida miserável. Certo dia antes de sair ele me pegou acordado escovando Biscoito, nosso pangaré. Ele se ajoelhou perto de mim, me olhou nos olhos e disse: “Garoto, você vai para a escola aprender a escrever. Não seja um velho pobre e sujo como Eu.”

Jack o observava enquanto a bebida fazia o homem falar. Acender fogueiras e afogar as mágoas.

— Fiz o que ele disse, aprendi a ler e escrever. Mas a vida de estudos não era pra mim. Hoje estou aqui, um fora da lei que tem como teto as estrelas e não tomo um banho faz alguns dias. A vida é engraçada não é Mr. Hill?

— Sim, ela é. — concordou Jack. Depois de uma pausa, perguntou curioso — Vocês são bandidos?

— Não bandidos. — Bill não parecia ofendido, mas parecia fazer questão de explicar — Vivemos livres, não concordamos com a civilização das grandes cidades. Homens se juntam a acham que podem tomar a nossa liberdade em troca de mordomias e favores. É a liberdade, Mr. Hill, que mantem essa nação grande e eu sou um dos homens que luta por ela — Bill tossiu duas vezes e tomou mais um gole — É claro que nessa vida já cometi alguns erros, mas quem nunca não é Mr…

Antes que pudesse terminar de falar, Bill foi interrompido por um tombo. Era Scott que havia caído totalmente desacordado do lugar onde estava sentado.

— Esse irlandês maldito bebeu demais — resmungou Bill direcionando a voz para o amigo — Scott! Scott!

Ele não respondia e estava totalmente imóvel não chão com os olhos revirados e um fio de saliva caindo de sua boca. O cantil derramava no sopé da barraca. Nesse momento Jack se levantou, caminhou até a fogueira, que tinha virado um amontoado de brasas, e pegou de volta sua pistola colocando-a no coldre. Depois pegou seu rifle e o alçou pelas costas, bateu o chapéu duas vezes e o colocou de volta.

— O que diabos você fez!? — Bill tentava se mexer, mas seu corpo não respondia. Mas que droga está acontecendo? Ele foi caindo até que ficou de bruços no chão da barraca enquanto via Jack se aproximar devagar e se abaixar ao lado do amigo, olhando com calma como quem examina o local de um crime.

— Snakeroot — Jack falou de maneira fria — muito letal, mas se usada de maneira certa no whisky, se torna um belo anestésico contra a dor. Seu amigo aqui vai dormir durante a noite toda, e você também.

Jack olhou nos olhos de Bill enquanto levantava. Era possível ver a raiva transbordando do olhar dele. Parou e o ficou encarando por alguns segundos, depois virou o rosto de lado e cuspiu.

— Me desculpe cowboy, não é nada pessoal. Você e seu amigo parecem ser pessoas decentes. Mas como eu te disse antes: Na vida selvagem, sempre alguém é caçado.

(…)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.